quinta-feira, 2 de abril de 2009

Pequena propriedade produz o melhor café do Estado



Sítio em Torrinha, com 3,1 hectare, recebe prêmio regional e estadual

Por Léa Almeida Prado

Na propriedade de nome sugestivo – Árvore da Vida – com 14 hectares, Fernando Loureiro, o dono do sítio e toda a vida dedicada ao café, quebrou paradigmas. Participou pela primeira vez de um concurso, com sua primeira safra e mostrou que é possível obter qualidade em 3,1 hectares de cafés plantados. Reuniu predicados em sua lavoura que lhe garantiram o primeiro lugar no 7º Concurso Estadual de Qualidade do Café, na categoria “Café Natural”. Como premio as 10 sacas de café do sítio Árvore da Vida foram comercializadas a R$ 880 cada.
Milagre? Não. Segundo Loureiro, amor pela terra e pela cultura seguida de bons tratos e manejos culturais. A cafeicultura está no sangue da família. “Meus avós já praticavam esse cultivo, meus pais continuaram e com eles aprendi a lidar com a lavoura”, conta, com orgulho.
De acordo com a assessoria de comunicações da Secretaria da Agricultura, o que chamou a atenção dos presentes foi a variedade dos dois primeiros colocados: a propriedade de Macedo Junior, que ganhou na categoria cereja descascado, tem tradição de mais de cem anos em café, enquanto Loureiro se destacou por produzir apenas em pouco mais de três hectares. “Não esperava o primeiro lugar, mas sempre há uma expectativa. Essa foi a primeira vez que participei”, recorda.

Em família

Todo o manejo e tratos culturais necessários são feitos pela família. A propriedade é vizinha com a do pai, Antonio Loureiro, 59 anos, que assim como a mãe, Nilva Tassim Loureiro, 58 anos, o irmão Flávio Loureiro, 29 e a irmã Nívia, 22, participaram de todo o processo. “Esse ano fiquei no terreiro virando o café. Eu e a Nívia, ajudamos também na colheita. O prêmio foi trabalho da família toda”, declara a mãe.
Praticamente 100% dos grãos foram colhidos em cereja, a derriça feita no pano e a secagem pelo método natural. Alceu Ricardo Gomes Liduenha, 27, agrônomo da Cooperativa Agrícola de Jaú diz que a cultura está muito bem preparada. “É uma lavoura nova e a tendência é de aumento na produção até se estabilizar. O plantio está com três anos e muito bem cuidado, com adubação de acordo com o recomendado”.
Clima: um dos fatores importantes

O acompanhamento técnico no sítio Árvore da Vida foi realizado pela engenheira agrônoma da Casa da Agricultura de Torrinha, Alda Rodrigues. Ela acompanhou todo o processo, desde a implantação da lavoura. A propriedade de Loureiro, onde são plantadas as variedades mundo novo e icatú, faz parte do programa de microbacia do Ribeirão Pinheirinho.
Segundo a agrônoma, o município de Torrinha, por causa da altitude propícia uma qualidade melhor de bebida de café. As lavouras plantadas entre 800m a 1000m de altitude, com variações de temperatura entre 20 graus e 22 graus, favorecem o cafezal. “Dos 10 classificados no concurso regional, 8 são de Torrinha, isso mostra a influencia climática no sabor da bebida”, diz Alda Rodrigues.
“A maioria das propriedades daqui é pequena de 10 a 15 hectares, a mão-de-obra é familiar”, prossegue. “Plantam, colhem, secam, tudo é feito com muito cuidado, com carinho, diferente de ser tratado por empregados.”
A faixa de altitude, temperaturas baixas, excesso de umidade e ventos favorecem o aparecimento de moléstias como o phoma na região. A doença surgiu também na lavoura de Loureiro. “Houve muita seca de rama no ano passado, mas nada que prejudicasse muito, entramos com os defensivos e foi combatido”, explica.
Como ganhador do primeiro premio estadual, Fernando Loureiro estava classificado para participar do concurso nacional, mas não tinha mais amostras de café para concorrer. “Passei meu lugar para o segundo colocado, que por sinal ganhou. Minhas chances eram muito boas”, reflete.
Conforme Alda Rodrigues, a participação no concurso nacional será difícil. “As lavouras são pequenas, não têm volume”. Para se obter uma saca de café beneficiado é preciso de três em coco. Em 1 hectare bem produtivo é possível se obter 30 sacas beneficiadas. “Vai ficar longe de se poder participar, a não ser que o regulamento mude. Temos vontade, mas a maioria é pequeno proprietário”, conclui. (LAP)

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