terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Renda agrícola sofre queda de receita

Após bater recordes de produção e receita em 2007 e 2008, a agricultura brasileira de grãos vai recuar este ano. A renda do produtor com a safra de arroz, feijão, milho, soja, trigo e outros grãos, que começa a ser colhida a partir de fevereiro - e que dá a dinâmica da economia de mais de 70% dos municípios brasileiros -, deve encolher em R$ 10,4 bilhões. É a primeira queda na receita de grãos em três anos. Significa menos dinheiro para a compra de carros, máquinas, equipamentos e eletrodomésticos e um volume menor de receita de exportação para o País. Nas contas da RC Consultores, a safra de grãos 2008/2009 deve render aos agricultores R$ 79,4 bilhões, ante R$ 89,8 bilhões da safra passada. A queda está concentrada na dobradinha soja/milho, que responde por 80% do volume e 70% da renda. ''A receita com grãos pode cair ainda mais se a recessão se aprofundar nos EUA e os preços do milho e da soja recuarem para níveis inferiores à média histórica'', alerta o diretor da consultoria e responsável pela projeção, Fabio Silveira. Para estimar a receita agrícola com os grãos, o economista considerou uma safra de 134 milhões, 8,7% menor que a anterior. Além disso, levou em conta que os preços médios em reais da soja, do milho, do arroz e do feijão serão 8%, 3%, 4% e 28% menores em relação à média de 2008, respectivamente. E o dólar deve chegar em dezembro valendo R$ 2,50. O tombo nos volumes de produção, provocado pela crise de crédito que atingiu os agricultores exatamente na época do plantio, pode ser maior. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) prevê um recuo de 10% nos volumes nesta safra. Na semana passada, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu que a queda na safra de grãos 2008/2009 poderá superar os 5% projetados inicialmente. O motivo do corte nas estimativas é a estiagem que atinge o Sul do País. Só no Paraná, líder na produção nacional de milho e feijão e o segundo em soja, a quebra na safra é de 23,4%. ''É a maior queda na safra de grãos do Estado em 20 anos'', diz o coordenador técnico do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura, Otmar Hubner. São 5 milhões de toneladas a menos de feijão, soja e milho, grãos básicos para o mercado doméstico e para exportações, no caso da soja. ''Abril será o mês crítico para os agricultores'', prevê a assessora técnica da CNA, Rosemeire dos Santos. Ela observa que, apesar da redução nos volumes, uma maior quantidade de produto deve ser ofertada no mercado em abril, no pico da colheita, o que deve derrubar os preços e a receita. Ao contrário de anos recentes, quando grande parte da produção era vendida antecipadamente, em 2009 isso não ocorreu por causa da falta de crédito. Hoje, diz ela, 21% da safra já foi vendida, ante 35% em épocas normais. A maior disponibilidade de grãos para venda traz um certo alívio para a inflação no curto prazo. ''Mas não está descartada elevação dos preços no segundo semestre'', diz Silveira. Essa também é a avaliação de Rosemeire, que prevê pressões de preços a partir de julho. A reversão no quadro inflacionário pode ocorrer se a falta de crédito persistir e afetar a expectativa de plantio para 2010. ''Em 2009 a crise tangenciou a agricultura. Em 2010 deve pegá-la em cheio'', diz.

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